Arena BSB
Menção Honrosa no Concurso Nacional Arena BSB
O Estádio Nacional de Brasília, Arena BSB, fortaleceu-se como símbolo de arquitetura da capital do país ao ter concluídas suas obras para a Copa do Mundo de 2014. Sua arquitetura monumental, com destaque para as colunatas de concreto aparente que circundam o estádio, destacam-se na paisagem da cidade de forma marcante. Contudo, seu entorno ainda pouco desenvolvido dificulta as articulações necessárias para o bom funcionamento do estádio, e suas extensas áreas secas criam circuitos pouco confortáveis para quem se desloca a pé.
Dessa forma, ao intervir na Arena BSB, é preciso partir de algumas premissas básicas: a monumentalidade do estádio deve ser preservada, mantendo-o sempre como o maior elemento de legibilidade do complexo; ao propor usos cotidianos ao complexo, como restaurantes, bares, lojas, supermercado e banco, é preciso criar ambiências urbanas com escala humana, que estimulem os deslocamentos à pé, com áreas sombreadas e ventiladas constantemente; a articulação do complexo com o Plano Piloto deve ser maximizada, fazendo com que a área seja parte pertencente da cidade; e, por fim, as grandes áreas ocupadas por estacionamentos devem ser, ao máximo, escondidas dos pedestres, uma vez que esses espaços pouco contribuem para a urbanidade desejada.
Assim, o projeto buscou uma nova organização espacial do Complexo Esportivo e de Lazer Arena BSB, criando cinco eixos estruturantes que conectam a Arena com os demais edifícios do complexo e também com a cidade de Brasília. Pelas características existentes de implantação dos edifícios esportivos e do próprio Plano Piloto, esses eixos foram traçados de maneira radial, tendo como centro geométrico o Estádio Nacional.
O Eixo Monumental, símbolo do vanguardismo arquitetônico e urbanístico da capital do país, terá sua continuidade garantida através do Eixo da Esplanada, que conectará os milhares de torcedores ao coração do complexo, o Estádio Nacional. A Esplanada foi implantada de modo a encaixar-se no terreno, vencendo os desníveis existentes, ao mesmo tempo que garante a sensação de monumentalidade do estádio, que vai se desvelando a medida que o torcedor se aproxima de sua estrutura.
O Eixo da Cidade foi traçado a partir da continuidade da SRTVN, da Asa Norte, como forma de aproximar os bairros residenciais de Brasília ao uso cotidiano que a Arena BSB agora oferece. Abrigando usos como restaurantes, bares e comércios, a configuração espacial proposta ao Eixo da Cidade garante uma escala mais intimista, através de áreas cobertas e sombreadas, com locais de permanência agradáveis e protegidos, mas sempre utilizando o Estádio Nacional como plano de fundo de sua paisagem.
O Eixo Musical foi traçado aproveitando o nó viário criado pela Srpn 1, logo em frente ao Colégio Militar de Brasília. Concentra boa parte dos restaurantes e bares do complexo, e também dá acesso ao conjunto de Becos Musicais que vão demonstrar a diversidade cultural que Brasília carrega em suas raízes. Além disso, é a principal forma de ingresso de pedestres ao estacionamento flexível, que também abrigará eventos de grande porte realizados a céu aberto.
Abrigando a maior parte dos usos de escritórios do complexo, o Eixo Comercial foi implantado em uma das áreas menos movimentadas da Arena BSB. Dessa forma, é possível facilitar o controle de acesso para as lajes corporativas, uma vez que esses espaços requerem maior privacidade.
Por fim, tem-se o Eixo do Cinema, próximo ao acesso do Autódromo Internacional. Sua localização reforça a característica da área, uma vez que concentrará, além do cinema fechado, dois drive-ins: o cine drive-in, um espaço clássico de lazer de Brasília, localizado dentro do autódromo, e o novo drive-in, com arquitetura contemporânea, que reforça o caráter inovador da capital brasileira.
Além dos eixos que apontam para o centro do estádio, outros dois eixos foram traçados, concêntricos ao estádio, que realizam a costura necessária entre os principais caminhos, direcionando torcedores, moradores e visitantes aos diversos usos do complexo. Um deles, circundando o Estádio Nacional, é o Bulevar, e o outro é um Eixo Conectivo de caráter secundário.
O Bulevar une todas as pontas criadas pelos eixos traçados. Esse eixo responde à uma escala monumental desejada, já que permite observar o Estádio Nacional de forma irrestrita por todos os seus lados. O Bulevar também abriga os principais usos do complexo, como o Aquário, o Mercado e o Banco Conceito, bem como restaurantes, bares e casas noturnas, sempre garantindo uma vista privilegiada para o estádio.
Traçado de forma paralela ao Bulevar, o Eixo Conectivo é uma alternativa de passagem que garante maior permeabilidade pelos usos do complexo. Além disso, também pode ser utilizado como eixo de serviço em contraturnos, diminuindo os conflitos de fluxos entre visitantes e prestadores de serviços.
Como forma de configurar espacialmente os caminhos do complexo (eixos), o projeto propõe a ocupação perimetral dos espaços, com tipologias em fita. Essa forma de ocupação favorece o direcionamento dos pedestres, a criação de áreas de permanência e a continuidade urbana. O tratamento das fachadas, sempre transparentes, permitem que as atividades estendam-se dos edifícios para a rua com naturalidade, garantindo vitalidade e segurança nos espaços públicos. Além disso, a ocupação perimetral cria pátios internos, que nessa proposta abrigarão as áreas de estacionamentos, afastando-os ao máximo dos percursos pedonais. Em alguns casos, esses estacionamentos serão flexíveis, abrigando eventos a céu aberto e o drive-in. Na esplanada e próximo ao aquário, o estacionamento vai ser coberto, incentivando o uso das lajes como área de apropriação.
As soluções adotadas no partido do projeto buscam sempre garantir a escala monumental, característica tão importante e marcante de Brasília, mas ao mesmo tempo permitem que a escala humana permeie por seus caminhos, criando a ambiência urbana necessária para a dinâmica da cidade.
O lançamento dos eixos permite a contemplação livre e irrestrita do Estádio Nacional, coração do complexo, utilizando-o sempre como enquadramento principal, quando se deseja a escala monumental, ou como plano de fundo, quando se deseja a escala humana.
Para isso, diversos critérios técnicos foram adotados, sempre baseados nos limites dos sentidos humanos, como o tato, o olfato, a audição e, principalmente, a visão. Os eixos que direcionam ao centro do estádio, no seu sentido longitudinal, possuem sempre distâncias longas, que variam de 250 a 450 metros, adequadas à escala monumental. No sentido transversal, variam de 30 a 40 metros, mais adequados à escala humana.
Como forma de dar unidade visual e qualificação espacial, o projeto paisagístico, sobretudo o projeto da arborização urbana, perpassou pela adoção de diversas estratégias que visam: a organização espacial e dos fluxos do complexo; a criação de ambiências agradáveis; e, por fim, a criação de uma base ecológica, capaz de diminuir a erosão do solo, melhorar a qualidade da água filtrada para os lençóis freáticos e estimular a atração da fauna.
Para fortalecer a configuração dos eixos que organizam o complexo, o paisagismo também utilizou linhas que irradiam do Estádio Nacional, bem como do Ginásio Nilson Nelson, criando grandes canteiros com forrações e vegetação de grande porte, criando áreas de solo permeável e microclimas que auxiliam no conforto térmico no complexo, e que organizam os fluxos de pedestres.
Equipe: Arq. Eduardo Lopes; Arq. Eduardo Berté; Arq. Gustavo Peters; Arq. Felipe Kaspary; Arq. Paula Dilli; Arq. Rodrigo Reche; Arq. Artur Bernardoni; Arq. Mariah Mafra.